sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Capitulo 5



CLUBE DO LIMÃO



F
undado por dois casais vizinhos, apreciadores de batida de limão (cachaça com limão), o Clube do Limão, continua até os dias de hoje, instalado aos domingos na orla da praia, com a sua tenda de plástico, em frente ao Edifício Atlântico, na esquina da Rua Padre Carapuceiro.
Ponto de encontro de muita gente inclusive de turistas que vão conhecer e saborear a famosa batida de limão, que o clube fornece de graça. Isso mesmo... de graça! Bastando somente ser simpático e ter um bom papo, que logo, é admitido como sócio da velha confraria boêmia de Boa Viagem. Lá freqüentam e freqüentaram muitas pessoas importantes e, até nos dias atuais, algumas, ainda, vão tomar uma caninha com limão.
No meio desta empreitada de escrever este livreto, fomos surpreendidos com o falecimento de Jorge de Araújo Vieira, principal fundador da entidade e o mais folclórico dos sócios. Um gozador e divertida pessoa, o guru Jorge teve história e muita estória para ser contada. Sua vida daria um livro. Quem se dispuser a contá-la, por certo, vai ter que consumir muitas horas de trabalho, pois do guru existem muitos fatos pitorescos para serem descritos.
Foi num dia festivo de 07 de setembro do ano de l969, sob um forte calor nordestino, que o famoso e já tradicional Clube do Limão, foi fundado. Nasceu por acaso, ou seja, de uma bem-querência entre dois casais de vizinhos: Jorge de Araújo Vieira (carioca) e sua mulher D. Maria Helia Maninho Vieira (maranhense), juntamente, com o casal Jean Claude Potel (francês) e D. Dolly Potel (alemã), que gostavam de gastar conversa aos domingos à beira do mar, regada de uma caçhacinha com limão (batida de limão). Como o carioca Jorge era uma pessoa exótica, com aquele bigodão de barão do café, além de faladora e simpática, ao convidar um daqueles transeuntes da praia para tomar uma batidinha de limão, mal sabia, que o mesmo era um dos donos do Engarrafamento Pitu, que ao tomar a batida feita com cachaça de cabeça fornecida pelos donos do Engenho Ubú, em Goiana (Cláudio e Clóvis Pena Pereira) sentiu o gosto da cachaça e assumiu o patrocínio semanal de oferecer a sua aguardente Pitú. Vale ressaltar que o Engenho Ubú, era um dos fornecedores do Engarrafamento Pitu, se não, nos enganamos.
Meses depois, em janeiro de 1969, o número de adeptos do clube, já era de aproximadamente sessenta pessoas, entre mulheres e homens, então,  o  Engarrafamento Pitú, resolveu doar uma grande barraca de lona e bancos de madeira e fornecer todos os ingredientes da  batida, tornando o clube  uma  atração turística da praia, onde os verdadeiros boa-viagenses faziam  questão de levar os seus convidados e visitantes para conhecer a nossa caipirinha. É óbvio que, independentemente do principal ingrediente ser a famosa batida de limão, havia outras bebidas trazidas pelos adeptos, assim como as mulheres traziam salgadinhos e faziam os caldinhos de feijão, de peixe e de camarão. Também os passantes ocasionais eram convidados pelos sócios para uma paradinha na barraca e muitos se  tornaram habituês  de carteirinha.
O sucesso era tão grande que, durante o verão, uma bandinha de música animava as manhãs domingueiras do clube e somente após ás quatorze horas as pessoas desarrumavam a barraca, na espera do outro fim de semana, para um novo encontro.
Assim, com a gratuidade da aguardente, aos poucos, os dois casais de “estrangeiros” foram reunindo outros adeptos de conversas fiadas, tais como: Elmo Carneiro; Aluízio Ferrer; os irmãos Clóvis e Cláudio Pena Pereira (empresários); Hercy Frota (comerciante); Severino Queiroz (publicitário); Imperiano Lucena; Silvio Lélis (delegado); Wiliam Paiva; Carlos Berardo; Gerson Galdino Pereira; Paulo Bandeira Júnior; Constantino Donis; Amauri Neves; Jose Frota Neto; Marcos Antonio Lucena; Pedro Jorge de Andrade; Miguel Vita; Arnaldo Lemos; Geraldo Magalhães; José Vieira; Aníbal Freitas; Pedro Chablot; Pedro de Paula Barreto; Fernando Gusmão; Moysés Kerstman; Jarbas Guimarães; Teófilo Asfora; Adelgício Cavalcanti; Benedito Mendes da Silva; Osvaldo Seeco; Aguinaldo Batista; Djalma Verçosa; Tércio Donato; Walfrido Moura Lira; Jairo Monteiro dos Santos; Gilberto Sabino (barão); Carlos Menezes; Ricardo Wanderley; José Farah; Fernando Calmon; Zezito Magalhães; Getulio Cavalcanti; Otoni Rodrigues; Fernando Viegas; Gian Carlo Tiberi; Constantino Dornis; Paulo Bandeirante Júnior; Lino Bezerra Lima (sabiá); Dalcy Furtado Lima; Gerson Galdino Pereira; Antonio José Noya; Waldemir Reis; Heli Farias; Ari Farias; Carlos Fernando Brito.
Nas décadas de 1970 / 1980, o Clube do Limão esteve no seu ápice promovendo uma série de eventos, junto com os órgãos governamentais e empresas jornalísticas e industriais, tais como: Festival de Verão; Carnaval de Boa Viagem; Festival de Inverno; Serenata ao luar. Na verdade, não fosse o pessoal da agremiação, a nossa praia não teria as opções de lazer que possui hoje. Tudo se deu pelo pioneirismo do guru Jorge de Araújo Vieira, um modesto aeroviário carioca que aqui se aposentou e fixou moradia vindo a falecer em julho de 2007. Um verdadeiro pernambucano sem titulo, porém, um gentleman  no trato  com  as pessoas. O Recife, que aleatoriamente tem concedido títulos e honrarias à verdadeiros  “bundas  moles”, que nada fizeram pela nossa cidade,  até que poderia  homenagear a quem realmente,  por  amor  assumido o defendeu como fosse seu filho natural.
O velho guru da praia de Boa Viagem se foi em 07/07/2007, para a outra constelação sagrada, por certo, está contando as suas estórias junto aos anjos do céu, deixando-nos saudosos do seu carisma e da sua amizade.
O Clube do Limão, nos domingos de carnaval, sempre fez o seu desfile ao som de uma orquestra de frevo, mantendo continuamente a sua característica de defender a nossa pernambucanidade. Anualmente, era escolhido um homenageado, sempre um grande freqüentador, ou até mesmo um colaborador direto ou indireto, e, alguns poucos, pessoas de outros Estados, que a nível citadino ou estadual, sempre atuaram em defesa de nossa cidade. Dentre tantos, foi merecidamente homenageado o Sr. José de Souza Alencar, grande cronista social e de cinema, do Jornal do Commercio, um dos grandes operários na recuperação do JC, quando o controle acionário da empresa foi adquirido pelo grupo JCPM.
O homenageado, pessoa reconhecidamente tímida, subiu num jipe que abria o desfile do clube, sob um guarda sol e muita água mineral (suas duas únicas exigências), e desfilou todo o itinerário, do Castelinho até a entrada da Rua Padre Carapuceiro, onde fica o ponto de encontro dos freqüentadores. Acontecimento inusitado este, não só para os dirigentes da agremiação, como para toda a sociedade recifense, que conhece o temperamento do jornalista, muito pouco dado a festa pública. Ninguém acreditava na possibilidade, salvo: Jorge e Jairo Santos, este o presidente do clube na época que tinham convidado o homenageado.  O desfile foi um sucesso! Aliás, como advogado que fui do Jornal do Commercio, sou sabedor que ALEX, chegou a tirar dinheiro da sua poupança, para ajudar o pagamento da folha de funcionários do JC, quando a empresa sofreu intervenção.
Além do jornalista José de Souza Alencar, foram também homenageados em outros carnavais os senhores: Miguel Vitta, Paulo Roberto Barros Monteiro, Airton Marques, Walter Alves e Viegas (da Brahma), o Engarrafamento Pitú e o compositor Getúlio Cavalcanti, este último o autor do frevo do Clube do Limão que transcrevemos abaixo:

Clube do Limão (1977)

Eu sou do Clube do Limão
Tem jeito não
Ninguém me segura não
Vivendo esta vida
Tomando batida
Garota de lado
Do corpo queimado
Do sol de verão.

Com o frevo-canção CLUBE DO LIMÃO, Getúlio Cavalcanti, conseguiu o primeiro lugar na categoria, no Concurso de Músicas Carnavalescas (1977), patrocinado pela Prefeitura do Recife, (do Livro – Getúlio Cavalcanti – O Menestrel do Frevo de Bloco, de José Ricardo Paes Barreto, Cia. Pacifica Recife, ano 2000, pág. 45).
Recentemente, em setembro de 2008, o Clube do Limão completou 40 anos, numa comemoração sem alardes, depois do falecimento do seu presidente Jairo Monteiro e do seu ex-presidente Jorge de Araújo Vieira, no ano passado.
Atualmente o clube praiano está sob a direção de Fernando Morais e José Pereira Lima.
O tempo vai passando e as coisas muitas vezes não se renovam. É o caso do clube do limão. Não houve rejuvenescimento! Os jovens de hoje tem outros afazeres, outro lugares de encontros com os amigos, outras praias. As distâncias são encurtadas pelos meios de transportes cada vez mais fáceis. Boa Viagem hoje tem tudo! A realidade temente é a de que o famoso clube deixe de existir. Talvez, estejamos aqui, registrando a sua vida já nos seus últimos dias. Mas, com toda a certeza, o Clube do Limão e todos aqueles que dele tomaram e tomam parte, fizeram e fazem também a história do nosso querido bairro. No Eclesiastes (9,11) vem dito que “todas as cousas estão a mercê do tempo e da sorte. Assim também, os encargos, as faculdades, as situações, tudo enfim”. O Clube do Limão está também inserido nesse contexto, ou seja, a mercê do tempo e da sorte.

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