CLUBE DO LIMÃO
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undado por dois casais vizinhos, apreciadores
de batida de limão (cachaça com limão), o Clube do Limão, continua até os dias
de hoje, instalado aos domingos na orla da praia, com a sua tenda de plástico,
em frente ao Edifício Atlântico, na esquina da Rua Padre Carapuceiro.
Ponto de encontro de
muita gente inclusive de turistas que vão conhecer e saborear a famosa batida
de limão, que o clube fornece de graça. Isso mesmo... de graça! Bastando
somente ser simpático e ter um bom papo, que logo, é admitido como sócio da
velha confraria boêmia de Boa Viagem. Lá freqüentam e freqüentaram muitas
pessoas importantes e, até nos dias atuais, algumas, ainda, vão tomar uma
caninha com limão.
No meio desta
empreitada de escrever este livreto, fomos surpreendidos com o falecimento de
Jorge de Araújo Vieira, principal fundador da entidade e o mais folclórico dos
sócios. Um gozador e divertida pessoa, o guru Jorge teve história e muita
estória para ser contada. Sua vida daria um livro. Quem se dispuser a contá-la,
por certo, vai ter que consumir muitas horas de trabalho, pois do guru existem
muitos fatos pitorescos para serem descritos.
Foi num dia festivo
de 07 de setembro do ano de l969, sob um forte calor nordestino, que o famoso e
já tradicional Clube do Limão, foi fundado. Nasceu por acaso, ou seja, de uma
bem-querência entre dois casais de vizinhos: Jorge de Araújo Vieira (carioca) e
sua mulher D. Maria Helia Maninho Vieira (maranhense), juntamente, com o casal
Jean Claude Potel (francês) e D. Dolly Potel (alemã), que gostavam de gastar
conversa aos domingos à beira do mar, regada de uma caçhacinha com limão
(batida de limão). Como o carioca Jorge era uma pessoa exótica, com aquele
bigodão de barão do café, além de faladora e simpática, ao convidar um daqueles
transeuntes da praia para tomar uma batidinha de limão, mal sabia, que o mesmo
era um dos donos do Engarrafamento Pitu, que ao tomar a batida feita com
cachaça de cabeça fornecida pelos donos do Engenho Ubú, em Goiana (Cláudio e
Clóvis Pena Pereira) sentiu o gosto da cachaça e assumiu o patrocínio semanal
de oferecer a sua aguardente Pitú. Vale ressaltar que o Engenho Ubú, era um dos
fornecedores do Engarrafamento Pitu, se não, nos enganamos.
Meses depois, em
janeiro de 1969, o número de adeptos do clube, já era de aproximadamente
sessenta pessoas, entre mulheres e homens, então, o
Engarrafamento Pitú, resolveu doar uma grande barraca de lona e bancos
de madeira e fornecer todos os ingredientes da
batida, tornando o clube uma atração turística da praia, onde os
verdadeiros boa-viagenses faziam questão
de levar os seus convidados e visitantes para conhecer a nossa caipirinha. É
óbvio que, independentemente do principal ingrediente ser a famosa batida de
limão, havia outras bebidas trazidas pelos adeptos, assim como as mulheres
traziam salgadinhos e faziam os caldinhos de feijão, de peixe e de camarão.
Também os passantes ocasionais eram convidados pelos sócios para uma paradinha
na barraca e muitos se tornaram habituês de carteirinha.
O sucesso era tão
grande que, durante o verão, uma bandinha de música animava as manhãs
domingueiras do clube e somente após ás quatorze horas as pessoas desarrumavam
a barraca, na espera do outro fim de semana, para um novo encontro.
Assim, com a
gratuidade da aguardente, aos poucos, os dois casais de “estrangeiros” foram
reunindo outros adeptos de conversas fiadas, tais como: Elmo Carneiro; Aluízio
Ferrer; os irmãos Clóvis e Cláudio Pena Pereira (empresários); Hercy Frota (comerciante);
Severino Queiroz (publicitário); Imperiano Lucena; Silvio Lélis (delegado);
Wiliam Paiva; Carlos Berardo; Gerson Galdino Pereira; Paulo Bandeira Júnior;
Constantino Donis; Amauri Neves; Jose Frota Neto; Marcos Antonio Lucena; Pedro
Jorge de Andrade; Miguel Vita; Arnaldo Lemos; Geraldo Magalhães; José Vieira;
Aníbal Freitas; Pedro Chablot; Pedro de Paula Barreto; Fernando Gusmão; Moysés
Kerstman; Jarbas Guimarães; Teófilo Asfora; Adelgício Cavalcanti; Benedito
Mendes da Silva; Osvaldo Seeco; Aguinaldo Batista; Djalma Verçosa; Tércio
Donato; Walfrido Moura Lira; Jairo Monteiro dos Santos; Gilberto Sabino (barão);
Carlos Menezes; Ricardo Wanderley; José Farah; Fernando Calmon; Zezito
Magalhães; Getulio Cavalcanti; Otoni Rodrigues; Fernando Viegas; Gian Carlo
Tiberi; Constantino Dornis; Paulo Bandeirante Júnior; Lino Bezerra Lima (sabiá);
Dalcy Furtado Lima; Gerson Galdino Pereira; Antonio José Noya; Waldemir Reis;
Heli Farias; Ari Farias; Carlos Fernando Brito.
Nas décadas de 1970 /
1980, o Clube do Limão esteve no seu ápice promovendo uma série de eventos,
junto com os órgãos governamentais e empresas jornalísticas e industriais, tais
como: Festival de Verão; Carnaval de Boa Viagem; Festival de Inverno; Serenata
ao luar. Na verdade, não fosse o pessoal da agremiação, a nossa praia não teria
as opções de lazer que possui hoje. Tudo se deu pelo pioneirismo do guru Jorge
de Araújo Vieira, um modesto aeroviário carioca que aqui se aposentou e fixou
moradia vindo a falecer em julho de 2007. Um verdadeiro pernambucano sem
titulo, porém, um gentleman no
trato com as pessoas. O Recife, que aleatoriamente tem
concedido títulos e honrarias à verdadeiros
“bundas moles”, que nada fizeram
pela nossa cidade, até que poderia homenagear a quem realmente, por
amor assumido o defendeu como
fosse seu filho natural.
O velho guru da praia
de Boa Viagem se foi em 07/07/2007, para a outra constelação sagrada, por
certo, está contando as suas estórias junto aos anjos do céu, deixando-nos
saudosos do seu carisma e da sua amizade.
O Clube do Limão, nos
domingos de carnaval, sempre fez o seu desfile ao som de uma orquestra de
frevo, mantendo continuamente a sua característica de defender a nossa
pernambucanidade. Anualmente, era escolhido um homenageado, sempre um grande
freqüentador, ou até mesmo um colaborador direto ou indireto, e, alguns poucos,
pessoas de outros Estados, que a nível citadino ou estadual, sempre atuaram em
defesa de nossa cidade. Dentre tantos, foi merecidamente homenageado o Sr. José
de Souza Alencar, grande cronista social e de cinema, do Jornal do Commercio,
um dos grandes operários na recuperação do JC, quando o controle acionário da
empresa foi adquirido pelo grupo JCPM.
O homenageado, pessoa
reconhecidamente tímida, subiu num jipe que abria o desfile do clube, sob um
guarda sol e muita água mineral (suas duas únicas exigências), e desfilou todo
o itinerário, do Castelinho até a entrada da Rua Padre Carapuceiro, onde fica o
ponto de encontro dos freqüentadores. Acontecimento inusitado este, não só para
os dirigentes da agremiação, como para toda a sociedade recifense, que conhece
o temperamento do jornalista, muito pouco dado a festa pública. Ninguém
acreditava na possibilidade, salvo: Jorge e Jairo Santos, este o presidente do
clube na época que tinham convidado o homenageado. O desfile foi um sucesso! Aliás, como
advogado que fui do Jornal do Commercio, sou sabedor que ALEX, chegou a tirar
dinheiro da sua poupança, para ajudar o pagamento da folha de funcionários do
JC, quando a empresa sofreu intervenção.
Além do jornalista José
de Souza Alencar, foram também homenageados em outros carnavais os senhores:
Miguel Vitta, Paulo Roberto Barros Monteiro, Airton Marques, Walter Alves e
Viegas (da Brahma), o Engarrafamento Pitú e o compositor Getúlio Cavalcanti,
este último o autor do frevo do Clube do Limão que transcrevemos abaixo:
Clube do Limão (1977)
Eu sou do Clube do
Limão
Tem jeito não
Ninguém me segura não
Vivendo esta vida
Tomando batida
Garota de lado
Do corpo queimado
Do sol de verão.
Com o frevo-canção CLUBE
DO LIMÃO, Getúlio Cavalcanti, conseguiu o primeiro lugar na categoria, no
Concurso de Músicas Carnavalescas (1977), patrocinado pela Prefeitura do
Recife, (do Livro – Getúlio Cavalcanti – O Menestrel do Frevo de Bloco, de José
Ricardo Paes Barreto, Cia. Pacifica Recife, ano 2000, pág. 45).
Recentemente, em
setembro de 2008, o Clube do Limão completou 40 anos, numa comemoração sem
alardes, depois do falecimento do seu presidente Jairo Monteiro e do seu
ex-presidente Jorge de Araújo Vieira, no ano passado.
Atualmente o clube
praiano está sob a direção de Fernando Morais e José Pereira Lima.
O tempo vai passando
e as coisas muitas vezes não se renovam. É o caso do clube do limão. Não houve
rejuvenescimento! Os jovens de hoje tem outros afazeres, outro lugares de
encontros com os amigos, outras praias. As distâncias são encurtadas pelos
meios de transportes cada vez mais fáceis. Boa Viagem hoje tem tudo! A
realidade temente é a de que o famoso clube deixe de existir. Talvez, estejamos
aqui, registrando a sua vida já nos seus últimos dias. Mas, com toda a certeza,
o Clube do Limão e todos aqueles que dele tomaram e tomam parte, fizeram e
fazem também a história do nosso querido bairro. No Eclesiastes (9,11) vem dito
que “todas as cousas estão a mercê do tempo e da sorte. Assim também, os
encargos, as faculdades, as situações, tudo enfim”. O Clube do Limão está
também inserido nesse contexto, ou seja, a mercê do tempo e da sorte.
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