segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Capitulo 13



JORNAIS REVISTAS E CLUBES



P
ouca gente sabe que a nossa praia teve jornal, revista, clubes sociais, agremiações esportivas fortes e até um cine-clube, todos criados por iniciativa da nossa juventude, para o preenchimento das horas de ócio. Vejam vocês: existiam muitos campos de todos os tamanhos para a prática do futebol e do voleibol, independentemente, dos campeonatos e torneios de futebol de praia, que se programavam, delineando as áreas da beira mar para à sua prática. Algumas entidades: BRASILEIRINHO, PORTUGUESA, ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA DA BOA VIAGEM, ONZE UNIDOS, CRUZ SANTA, CORTA JACA, GALPÃO DA QUERÊNCIA (Clube Gaúcho), ÁGUIA NEGRA, PALMEIRAS, YPIRANGA, CANARINHO, SÃO CRISTOVÃO, ESCOLA DE SAMBA BIRINAITE CLASSE A; BLOCO CARNAVALESCO KATRAIAS; RIFIFI ESPORTE CLUBE e os ainda existentes CLUBE DO LIMÃO; CLUBE DOS RAPAZES INOCENTES (CRI); CLUBE RECREATIVO DA AMIZADE (CRA).              
Afora o CLUBE DE TÊNIS, o CLUBE DOS OFICIAIS DA AERONÁUTICA e o CLUBE DAS ÁGUIAS (Clube dos Sargentos e Sub-Oficiais da Aeronáutica), que já existiam na década de 1950, surgiram, posteriormente, o CLUBE GAÚCHO DE PERNAMBUCO, este pertencente a colônia gaúcha em Pernambuco e o BOA VIAGEM PRAIA CLUBE (em meados de 1960) ambos extintos há anos. Lembramos porém, que o “Galpão da Querência Gaúcha”, no pouco  tempo de sua existência,  dinamizou  a  vida social e desportiva do nosso bairro com uma programação  intensa e  bastante  freqüentada por todos nós.
Um fato curioso: Quando o GALPÃO DA QUERÊNCIA GAÚCHA patrocinou seu primeiro Campeonato Farroupilha em 1961 não permitiu a inscrição do RIFIFI ESPORTE CLUBE, exigindo um outro nome, e assim, a turma do REC registrou o nome de CORTA JACA ESPORTE CLUBE, tornando-se as suas equipes de juvenis e adultos, campeãs dos anos de 1961 e 1962.
O quadro adulto bi-campeão foi formado por: Vicente Cerqueira, Joca Guimarães, Breno Silveira, Carlindo Falcão, Babau Barreto, Luis Patury, Paulinho Carioca, Paulinho Oliveira, Caio e Marcos Bezerra, Luiz Carlos, Baby, Roberto Falcão, Tonho, Marcos Silveira, Zé Carlos Araújo.


BRASILEIRINHO FUTEBOL DE PRAIA

No início dos anos sessenta, Boa Viagem tinha como atração os campeonatos anuais de futebol de praia, com a participação de equipes de vários bairros praieiros ou não.
Os embates futebolísticos eram aguerridos e, ás vezes, tumultuados por indisciplinas dos atletas e até mesmo brigas entre torcidas.
Os clássicos eram cheio de espectadores do futebol de praia que se divertiam com as habilidades dos craques, como também com as grotescas jogadas de alguns “pernas de pau”.
A expectativa, que se criava antes de um clássico, entre o BRASILEIRINHO de Boa Viagem e, por exemplo, o CORAL do Pina; o DOM VITAL de São Jose; a ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA DE AFOGADOS – AAA; era a de que tudo poderia acontecer  tamanha a rivalidade existente  entre os jovens dos bairros.


CLUBE MAIS ANTIGO

O CLUBE DE TÊNIS, talvez o mais antigo da época, se localizava no terreno onde foi construído o Hotel Boa Viagem, que está sendo demolido para a construção de dois espigões residenciais. Sobre tal agremiação, melhor se transcrever, trechos de uma reportagem intitulada “Dos tempos de João aos de Lula Cardoso Ayres” (do ZONA SUL JORNAL / REVISTA,  Ano 1. Edição 01, de 14 a 20 de setembro de 1974), que revela a vida social do nosso bairro nas décadas anteriores a de l950:

“Há as famílias monumentos de Boa Viagem. Aquelas que sempre acreditaram no bairro e o transformaram, com o peso de sua tradição, naquela faixa saudavelmente snob da zona sul do Recife. Foi o industrial João Cardoso Ayres, usineiro de Cucaú, era o que naquela época, se chamava de dândi completo. Tinha o dom, natural de liderança e esse dom ele o aplicava em todos os setores da vida - inclusive no de viver bem em sociedade. João Cardoso Ayres era, sobretudo, um entusiasta de Boa Viagem, um reduto altamente sofisticado onde as famílias do Recife iam passar a temporada de banhos, inclusive os circunspectos ingleses que residiam em Apipucos. A curiosa caravana, nos heróicos e luzidios Fords de bigode, geralmente ser dirigia para Boa Viagem pela Estrada dos Remédios e Imbiribeira. A PONTE DO Pina dificilmente era usada, porque só dava passagem para uma fileira de carros de cada vez, face a puçá largura. A areia de Boa Viagem era pura, alva, ainda sem poluição de hoje.


AS INICIATIVAS, AS GRANDES FESTAS NO CLUBE DE TÊNIS.

Industrial dinâmico, elegante, sempre de bom humor, João Cardoso Ayres promovia a alegria em Boa Viagem, apesar de ser um boa-viagense honorário, pois residia no Benfica, na casa que, hoje em dia pertence à viúva Frederico Von Shostenne e Lima Cavalcanti. Centralizou a alegria na fundação do Clube de Tênis, no terreno onde foi construído o Hotel Boa Viagem. Lá eram realizados bailes nos fins de semana, com horários destinados aos mais velhos, aos mais jovens e a criançada. Foi lá que se lançou o guaraná Frateli Vita. Os grandes dias do Clube de Tênis eram por ocasião dos grandes bailes carnavalescos. Com sua organização, João Cardoso Ayres, promovia baile dos casados, dos solteiros. No verão havia festa todo fim-de-semana. Quem se encarregava de confeccionar os convites era um jovem muito entusiasmado, filho de João, Lula Cardoso Ayres. A atração, pois começava pela beleza e bom gosto dos convites. Lula Cardoso Ayres já se iniciara na pintura.”.

NB: Sabe-se que o Clube de Tênis de Boa Viagem, era muito famoso, pois lá se reunia a elite social recifense com os seus convidados estrangeiros que vinham visitar o Recife.


BOA VIAGEM E A SUA IMPRENSA PROVINCIANA

Permitam amigos e, porventura, outros prezados leitores, escrever usando o verbo na primeira pessoa, não por diletantismo, mas para homenagear, de forma  singela, aqueles que me deram a luz e a minha educação moral e religiosa, me acompanhando sempre nos bons e, também, nos difíceis caminhos da  vida: Os meus pais Carlos e Odete Araújo.            
Sou o terceiro dos nove filhos do casal. Meu pai, advogado do batente, foi orgulhoso sempre de não ter sido empregado de ninguém, nem contribuinte da famigerada previdência social brasileira, tendo também dispensado a dádiva de um cargo público, na época em que a sinecura era uma instituição comum no país. Minha mãe formou-se em contabilidade pela Escola Normal, trabalhou no comercio na firma Albino Silva e, ao se casar, dedicou-se exclusivamente à família. Ambos conseguiram oferecer curso superior para todos os filhos que, com a graça divina, vão bem.
Desde pequeno tinha uma vocação para comunicação, quando criei jornais no Colégio Salesiano (Jornal Dom Bosco); Colégio Nóbrega (Jornal do Grêmio Literário); Faculdade de Direito da UCP - Unicap (Jornal Brasilidade); Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exército (CPOR em Notícias).
GAZETA DA BOA VIAGEM foi fruto desse ideário de adolescente ávido por aprender e realizar algo de útil, num bairro tranqüilo, sem tumulto, sem  violência, sem vida noturna alguma, e que começara a se desenvolver sobremaneira com o asfaltamento da Rua dos Navegantes e de algumas ruas  transversais, bem como, as construções de edifícios residenciais e pequenas galerias comerciais, ocupadas com farmácias, lavanderias, lanchonetes, lojas de discos e de confecções.
O corpo de redação era formado por este escriba e mais: Bruno Veloso da Silveira, Antonio de Souza Bispo e Herbert Drummond e, tinha como colaboradores outras pessoas, como: Éster Cohen, Magnólia Godoy, Cônego Adalberto Damasceno, Wilkie Sales Simão, Eliete Roma, Alberto e Carlos Teixeira, Artur Orlando e Roberto Costa Lins.
O trabalho era dificílimo, uma vez que muitas vezes após as aulas do colégio, passava as tardes na tipografia do Jornal A TRIBUNA, da nossa Arquidiocese, que ficava na Rua do Riachuelo, na Boa Vista, lugar em que o nosso jornal era impresso, ou tentando vender espaços de propaganda, sem nenhum conhecimento de técnica de vendas.
Sem anúncios publicitários, o jornal, que era quinzenal, só chegou ao seu sexto número, aos “trancos e barrancos”, jogando por terra todo o sonho de um adolescente.


ZONA SUL - JORNAL / REVISTA

Nos meados da década de 1970, precisamente em setembro de 1974, surgiu em nossa praia o ZONA SUL – JORNAL / REVISTA, que tinha como Editor-Responsável o jornalista Manoel Barbosa, egresso de vários jornais pernambucanos. A redação e publicidade ficava na Av. Conselheiro Aguiar, nº 2846, e era composto e impresso na Indústria Gráfica do Recife Ltda, na Rua Dr. José Mariano, nº 723, Boa Vista – Recife.
Dito jornal-revista era muito bem diagramado e impresso, no mais moderno sistema gráfico da época, com fotos coloridas de alta resolução. Sob o tema: “A população da zona sul é quem faz este jornal / revista“, diga-se de passagem, que eram os praieiros do sul do Recife que predominavam nas suas páginas de reportagens, crônicas e notícias.
Muitas pessoas, artistas, estudantes, atletas, profissionais liberais, empresários da indústria e do comércio, agremiações sócio-desportivas e muitas mulheres bonitas foram destacadas pelo Zona Sul, que tinha colaboradores como Napoleão Barroso Braga e Carlos Lustosa. Tal revista teve uma duração razoável, diante de um comércio e setor de serviços instalados no bairro, ainda de forma empírica, que não puderam dar o suporte necessário àquele órgão de imprensa, que se mostrava promissor por ser muito bem elaborado, com boas reportagens na capa e contra-capa e notícias muito bem veiculadas de interesse dos moradores do litoral sul.
Induvidosamente o JORNAL - REVISTA ZONA SUL deixou um registro indelével dos anos em que circulou, por essa razão óbvia, várias de suas páginas se acham republicadas nestas memórias.

JORNAL DA PRAIA

O Jornal da Praia, de Fernando A Monteiro, era editado no parque gráfico GTB Guias Telefônicos do Brasil e circulava nas praias de Olinda (principalmente) e de Boa Viagem. Surgiu no início da década de 1980 e tinha um formado de pequeno tablóide, se restringindo ao noticiário de festas de aniversários, de casamentos e outras comemorações festivas empresariais, dando ênfase às fofocas sociais praieiras do que mesmo assuntos mais sérios das praias. Tal órgão de imprensa durou poucos anos.

GAZETA NOSSA

            Desde Maio de 2007 circula em Boa Viagem uma publicação voltada para os seus interesses – o Jornal Gazeta Nossa, que anteriormente circulava apenas no IPSEP. Trata-se de um jornal quinzenal com tiragem de 5.000 exemplares, com 16 a 20 páginas impressas totalmente em policromia nas Edições Bagaço, em formato tablóide, o que facilita a sua leitura por ser formato compacto. Sua distribuição é feita no calçadão de Boa Viagem e empresas e possui atualmente cerca de 700 assinantes.
            É um órgão dirigido pela jornalista Maria do Carmo Andrade Lima e, tem como seu editor chefe, o jornalista Paulo Rocha.

ARTIGOS DIVERSOS DO AUTOR

Para imortalizar e relembrar a época em que a ZONA SUL reinou no nosso bairro é importante transcrever alguns artigos elaborados pelo autor:

            RIFIFI O FUTEBOL DE BOA VIAGEM (Publicada no ZONA SUL – Jornal e Revista Ano I, nº 9, agosto de 1974)

“Embora não seja sugestivo o nome de RIFIFI, a verdade é que essa agremiação tem atravessado as fronteiras dos preconceitos sociais e repeliu o falso juízo de alguns que confundiam aquela rapaziada com a famigerada juventude transviada da década de 1950. Os seus integrantes faziam do assobiar às vezes inconvenientes da música-tema do filme ‘Rififi’, o ‘toque de reunir’ dos outros colegas em quaisquer reuniões ou festas. Todavia, como tudo passa, hoje, os seus integrantes são na maioria profissionais liberais, dentre eles os Drs. Antônio Carlos Araújo (Advogado), Breno Pimentel da Silveira (Economista), Marcos Pimentel da Silveira (Engenheiro), Marcelo Pimentel da Silveira (Odontólogo), José Trajano da Costa (Engenheiro e Empresário), Ricardo Rodovalho de Lira (Odontólogo), Carlos Alberto Texeira (Engenheiro), Luiz Carlos Campos (Administrador de Empresas) E Luiz Augusto Vieira da Cunha (Administrador de Empresas). Todos participantes efetivos não só do desenvolvimento esportivo, como também, sócio-econômico do bairro. Cada um dentro das suas atividades laborais. Liderando empresas, clínicas, escritórios, etc. Afora as atividades desportivas que sempre foram a tônica de sua existência o RIFIFI foi a agremiação que realizou as melhores serenatas, as mais animadas prévias carnavalescas da zona sul, apresentando ‘Posto Quatro na Folia’, ‘Rei Momo Vem Aí’, noticiadas inclusive nas colunas sociais dos jornais recifenses, pois, repercutiam fora do nosso bairro.
A partir daquele momento, o RIFIFI iniciava um rosário de vitórias contra equipes do Pina, Piedade, Aeronáutica, Imbiribeira, Ibura, etc, que o tornou conhecido na zona sul.

FOI FORÇADO A MUDAR DE NOME DEVIDO AOS PRECONCEITOS DA ÉPOCA

Por inibições e preconceitos de alguns o RIFIFI para participar dos três campeonatos farroupilhas tomou o cognome de CORTA JACA, certamente que eram promovidos pelo GALPÃO DE QUERÊNCIA, Clube Gaúcho de Pernambuco (situado à Rua Jequitinhonha), tornando-se campeão nas categorias adulto e juvenil.
Estimulado pelos títulos conseguidos naqueles campeonatos, resolveu patrocinar o primeiro Campeonato de Verão, vencendo-o nas categorias Juvenil e Infanto-Juvenil. Daí em diante passou a representar o bairro de Boa Viagem em outros torneios e competições dentre eles: Campeonato Inter-Bairros, Campeonato de Futebol de Praia, Campeonato de Peladas promovidas por órgão de Imprensa da Capital, agremiações esportivas e Prefeitura Municipal do Recife. Em 1969, passando a jogar calçado já em campos oficiais, o RIFIFI conseguiu armar a melhor equipe de sua existência e, excursionou pelas Cidades interioranas dos Estados de Pernambuco e da Paraíba, obtendo vitóba, obtendo vit da ParaosFIFI conseguiu armar a melhor equipe de sua existCampeonato de Peladas promovidas por a (Odontrias inesquecíveis, dentre as quais: contra os Juvenis do América Futebol Clube (7x0); Escolinha da Cabanga (8x2); Estudantes de Timbaúba (7x0); Juventude Esportiva de Timbaúba (2x1 e 3x2); Esporte Clube També (3x0) e empates nas Usinas Caxangá e Cucaú, etc. O quadro era assim constituído: Abdias (ex-goleiro do Náutico e América); Frederico e Walter Calábria, Marcos Silveira, Breno Silveira e Marcos Pasticha, Marcos Cerqueira, Luís Carlos Campos, Ricardo Rodovalho, João Vicente e Antônio Carlos Araújo.
Surgidos nos idos de 1958, nas peladas do jardim da residência do Dr. José Dhalia da Silveira, na Av. Boa Viagem, nº 3.672, à altura do Corta Jaca, o RIFIFI ESPORTE CLUBE (nome originário da música tema do filme que foi sucesso na época: ‘RIFIFI’) não se sabia que iria percorrer todos estes anos, mesmo com as dificuldades provocadas pelas constantes mudanças de suas praças de jogos, impostas pelo progresso deste bairro-cidade.
A trajetória tem sido longa e as suas atuais equipes continuam com aquele mesmo elã dos seus fundadores: Marcos e Marcelo Pimentel da Silveira, Mário Machado Junior e Marcelo Wolfmam Machado e Fred Wolfmam.

DO JARDIM PARA UM CAMPINHO

No ano de 1960, o clube aumentou o número de sócios atletas com a inclusão de Antônio Carlos Araújo, Paulo Roberto, Carlos e Luiz Teixeira, Roberto Antônio e Antônio Roberto Ramos e, conseguiu o Dr. Ambrósio Trajano Costa (já falecido, um dos beneméritos da agremiação) que lhe fosse cedido um terreno para o seu primeiro campo, que se localizou onde atualmente se encontra ‘Lojas Boa Vista’.

QUANDO OS RIVAIS SE UNEM

Construído o campinho, surgiu outro problema que era encontrar adversário para jogar. Buscou-se no Mata Sete (localidade situada por trás da Av. Conselheiro Aguiar, à altura do Ed. Holiday repleta de casebres) o seu primeiro e mais sério rival, pois os encontros das duas equipes eram verdadeiras batalhas ajudadas pelas manifestações das torcidas e dos moradores dos casebres que infestavam aquelas redondezas e que por vezes agravavam os propósitos meramente desportivos. Depois, sendo seu Diretor Desportivo, Antônio Carlos de Araújo, resolveu ampliar o campinho, dando condições de se formar equipes com nove jogadores cada. E trazendo para o RIFIFI os três melhores atletas do Mata Sete, Geraldo Alves da Silva, Severino Xavier e Arnaldo Xavier, famosos pelas alcunhas de Neca Bodinho, Biu Pacaru e Cangaceiro, forçou a dissolução do tradicional antagonista.”

            CABANGA. O GRANDE CARNAVAL DA ZONA SUL (Publicado no ZONA SUL – Jornal e Revista ANO I, nº 11, 22/11/1974 a 29/11/1974)

“O Carnaval da zona sul, especialmente o de Boa Viagem, há mais de trinta anos se limitava às festas promovidas pelo CLUBE DE TÊNIS DE BOA VIAGEM (que se localizava onde hoje se encontra o Hotel Boa Viagem) e, pelas festanças realizadas por tradicionais famílias do bairro tais como: Dhalia da Silveira, os Addobbati, os Costa, os Menezes, os Cardoso Ayres, os Queiroz, os Colaço, os Cunha Rego, os Tigre, os Neves, os Carneiros, os Petribu, os Pierreck, os Pontual, os Vasconcelos e os Aires. Naqueles idos a diminuta população boaviagense não tinha as opções de hoje para se divertir. Na verdade, se formos fazer uma retrospectiva da zona sul, principalmente, sobre os períodos carnavalescos, veremos que nos meados da década de 1950, quando o bairro deixava de ser mera praia, onde se vinha curtir o verão, para transformar-se em HABITAT definitivo do recifense, é que evidenciamos que passou a ter vida social.
Durante algum tempo o AERO CLUBE DE PERNAMBUCO, era o mais aberto e o local onde se reunia a maioria dos jovens. Todavia, essa liderança na realização das melhores prévias de carnaval não durou muito, vindo a ser ofuscada, já nos idos de 1957, pelas realizações do CABANGA IATE CLUBE, intituladas ‘CARNAVAL EM PRETO E BRANCO’, ‘CARNAVAL EM TECNICOLOR’ e ‘CARNAVAL COMEÇA NO CABANGA’, que até hoje subsistem.
A agremiação da bacia do Pina, popularmente chamada, de Clube das Gaivotas Douradas, mesmo sendo fundada em 2 de abril de 1947, durante os seus dez primeiros anos de existência não passava de um clube dos chamados fechados, que se restringia a um número de sócios que não chegava à casa dos quarenta. Todavia a capacidade empreendedora dos saudosos Carlos Frederico Meira de Vasconcelos e Fernando Borges Rodrigues, respectivamente, Comodoro e Diretor Social, na época, deu nova dimensão ao CABANGA, transformando-o numa agremiação mais ampla em termos de participação, acompanhando o progresso não só do bairro, senão da cidade. Foram estes desportistas sempre lembrados, que idealizaram essas tradicionais festas pré-carnavalescas que, de ano para ano, vêm alcançando maior sucesso. Já fazem parte, inclusive, do calendário social do Recife.
Por outro lado, uma não menos famosa agremiação social da zona sul, o CLUBE DOS OFICIAIS DA AERONÁUTICA, cognominado Clube da Águia, não ficou atrás naquele tempo, quando patrocinou os bailes ‘MAMÃE EU QUERO VOAR’, ‘SESSENTA VEM AÍ’, ‘SESSENTA CHEGOU’, ‘SESSENTA ME ENGANOU’, este último, já em 1959, com os títulos inspirados no verso de um frevo-canção que dizia ‘negro em sessenta vai virar macaco’ e ‘penca de banana vai custar um milhão’. O CLUBE DA AERONÁUTICA, nestes últimos anos se tem restringido à realização de duas festas, realmente espetaculares: ‘MAMÃE EU QUERO VOAR’ e o seu famoso ‘REVEILLON’ este último, primeiro sem segundo na nossa Capital.
A HEGEMONIA É DO CABANGA
O CABANGA IATE CLUBE DE PERNAMBUCO, nos últimos anos é verdadeiramente a agremiação que tem oferecido as melhores festas. A exemplo daquelas três principais festas pré-carnavalescas, o Cabanga idealizou no ano passado mais uma outra, denominada ‘CARNAVAL À VISTA’, graças ao empenho do ex-comodoro Julio Duarte Areia, quebrando um tabu de que ‘festa de carnaval fora de época não alcançaria sucesso’.
No sábado, dia nove do corrente, o Cabanga foi sacodido por uma explosão de alegria que prenunciou um carnaval dos mais animados para o ano de 1975, bem como nos leva à certeza de que as suas prévias: ‘CARNAVAL EM PRETO E BRANCO’, a se realizar em 14 de dezembro; ‘CARNAVAL EM TECNICOLOR’, em 11 de janeiro e, finalmente a sensacional, ‘CARNAVAL COMEÇA NO CABANGA’ serão coroadas de êxito.”

AS EMOÇÕES DO KART (Publicado no ZONA SUL – Jornal e Revista ANO I, nº 8, 2/11/1974 a 8/11/1974)
“Surgido em 1968, através da iniciativa pioneira do seu atual Presidente Fernando Pires Costa, o KART CLUBE DE PERNAMBUCO, continua hoje sendo uma das atrações do desporto pernambucano, principalmente, no setor amadorista. As dificuldades continuam, todavia, não têm desanimado aqueles que fazem parte da cúpula dirigente da entidade, que mesmo em prejuízo dos seus afazeres particulares, sempre procuram um tempinho para ajudar o kartismo do Estado. Um dos problemas mais cruciantes da entidade tem sido a falta de um kartódromo com os requisitos técnicos capazes de dar segurança, não somente aos pilotos, mas, ao público, que também tem sido responsável pelo brilhantismo das inúmeras provas que o KART CLUBE tem realizado.
Mesmo com os problemas existentes, Pernambuco é o Estado pioneiro no Nordeste do Brasil a realizar certames e incentivar a criação de entidades congêneres noutros estados, tais como, Bahia e Rio Grande do Norte.
 Os precursores do kartismo em Pernambuco foram os seguintes desportistas: Fernando Pires Costa, Fernando Addobbati, Biagio Lombardi, Jorge Asfora, Nadjackson Pereira Domenico Dela Santa. Desta relação, continuam dando sua parcela de colaboração o atual Presidente Fernando Pires e o piloto Fernando Addobbati.
Atualmente as provas do kartismo pernambucano têm sido realizadas no estacionamento de veículos do ginásio municipal, o famoso ‘GERALDÃO’, situado na Av. Mascarenhas de Moraes, Imbiribeira, graças à colaboração do superintendente Cel. Haroldo Tôrres.
Se se levar em consideração que os maiores azes do automobilismo mundial são ex-pilotos de kart, há que considerar que este esporte é realmente uma escola em que aqueles que dela participam adquirem a sensibilidade, frieza, equilíbrio e coragem, virtudes necessárias para a formação dos grandes campeões, como Emerson e Wilson Fitipaldi, Carol Figueiredo, Rony Peterson, Jean Pierre, Beltoise e outros.
Com as dificuldades da Federação Pernambucana de Automobilismo, da qual o KART CLUBE faz parte, os associados da entidade máter têm dado um apoio efetivo ao seu filiado devido ao fato de que Pernambuco ainda se ressente da falta de um autódromo, que vem sendo uma promessa constante dos nossos governantes e, que até a presente data, nada de concreto foi realizado, o que tem causado grande descontentamento aos automobilistas, principalmente dos nostálgicos, Lourenço Bezerra Cavalcanti, Gegê Bandeira, Paulo Marinho, Armando da Fonte, Rafael Addobbati, Zeca Nery e Maurício Bukart.”


PINHEIRENSE, DOS GRANDES ESTÁDIOS AO BATE-BOLA TRANQUILO EM BOA VIAGEM (Publicado na ZONA SUL – JORNAL E REVISTA, ANO I, nº 12, 30/11/1974 a 6/12/1974):

“Sálvio Martins Correia, é o nome completo de Pinheirense, um dos maiores craques do futebol pernambucano, bem como um dos melhores ‘peladeiros’ da zona sul.
Quem o quiser ver jogar vá aos sábados à tarde ao campo do Rififi, à Rua Dhalia, e lá o conhecerá (ou reconhecerá) pela dificuldade de correr, devido a uma atrofia na perna esquerda, provocada por uma contusão num dos jogos mais tumultuados do futebol nordestino, em 1960, no Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza: Sport Clube do Recife 3, Fortaleza 1. Daquela partida, Pinheirense se recorda de quase tudo: do jogador que o atingiu deslealmente, Marreta, dos três jogadores expulsos de cada lado e dos autores dos gols, etc.
A volta da capital cearense lhe deu a certeza de sua incapacidade física para a prática do futebol profissional. Começou assim o período amargo de sua vida, que o obrigou a vender seu único patrimônio, provindo da profissão: uma casa, ainda em construção, na Rua Ernesto de Paula Santos; para poder subsistir.
Nascido em Pinheiro (daí o apelido de Pinheirense), no Estado do Maranhão, é um boaviagense de coração. O ex-atleta do Sport Clube do Recife chegou para estas plagas trazido pelo sentimento de gratidão dos dirigentes do Moto Clube, que o incluíram naquela delegação do clube em que ele jogara. É que havia sido demitido por ser julgado inapto para jogar futebol: uma hepatite contraída em São Luís.
Ricardo Diez, técnico do Sport na época, sabia de sua fama de bom jogador, bem como da doença. Chamou-o a participar de um treino de 15 (quinze) minutos e o apresentou logo ao Dr. Fraga Rocha, titular do Departamento Médico do Clube. O também saudoso Dr. Fraga fez os necessários exames clínicos e mandou que Pinheirense passasse quarenta dias na Colônia de Férias do SESC, em Garanhuns, por conta do Clube da Ilha do Retiro. O atleta, tido como incapaz pelo clube maranhense e pesando quarenta e nove quilogramas, viu renascer a possibilidade de voltar a jogar o futebol.
Campeão em 1954 e Bi – Campeão em 1955
De volta de Garanhuns o médio canhoto foi escalado titular do quadro da Praça da Bandeira, tornando-se campeão de 1954 e bi-campeão, já em 1955, estas duas conquistas as mais brilhantes do clube pernambucano, cujos quadros são considerados os mais bem formados pelo glorioso Sport Clube do Recife, nas gestões Gilberto Duque de Souza (1954) e Adelmar da Costa Carvalho (1955). Em 1954, durante a gestão de Gilberto Duque de Souza: Carijó, Bria e Djalma, Zé Maria, Wilson e Pinheirense, Carlinhos, Tonho, Enio, Cely e Zingone. Em 1955, na gestão de Adelmar da Costa Carvalho, no cinqüentenário do Sport Clube do Recife, tornou-se bi-campeão, fazendo parte da seguinte equipe: Osvaldo Balisa, Bria e Pedro Matos, Osvaldinho Mirim e Pinheirense, Traçaia, Naninho, Gringo, Soca e Géo.
Como se vê, nesta última formação, mesmo com a saída do Ricardo Diez, a famosa ‘Raposa Branca’, substituído pelo não menos famoso técnico nacional, o saudoso Gentil Cardoso (o homem do boné), Pinheiro (como é chamado na intimidade) permaneceu absoluto na sua posição.

EXCURSIONOU PELA EUROPA, E NA FRANÇA PASSOU-SE POR MIRIM

Em 1957, voltou a ser campeão pelo rubro negro da Ilha do Retiro, tendo inclusive participado da Excursão que o clube pernambucano empreendeu pela Europa e Oriente Médio. Um detalhe curioso: na França, Pinheirense foi confundido com Mirim, já que o famoso centro-médio deixou de acompanhar a delegação, dias antes do embarque, pois fora agredido num bar do Recife, por torcedores adversários. A imprensa francesa havia publicado os nomes mais conhecidos dos jogadores da agremiação pernambucana, entre eles estava o do centro-médio Mirim (que jogara no Vasco da Gama). Das vinte e uma partidas, o rubro negro venceu nove, empatou seis e perdeu seis. Fontaine, jogador francês, que na Copa do Mundo de 1958 viria a ser artilheiro, jogou contra o quadro nordestino, pelo Real Madrid, que venceu de 5x3, na inauguração dos refletores daquele clube espanhol.

PASSOU DIAS AMARGOS, MAS HOJE SE CONSIDERA REALIZADO

Embora houvesse sido um revoltado durante os dois primeiros anos posteriores à sua contusão, Pinheirense, pôde sair da angústia e da depressão que o atormentava. Com muita força de vontade dedicou-se ao comércio onde hoje se considera realizado: primeiro, por constituir família e poder educá-la; segundo, por poder fazer aquilo que sonhara quando moço, estudar.
Entre a família e o trabalho estão também as peladas dos caducos de que participa aos sábados, como higiene mental.
As peladas e os bate-papos com os amigos: Carlos, Lula, Dinho e Fernandinho Falcão, Ricardo Lambreta, Paulo Uchoa, Hélio Mota, José Mário, Jarbas e Fernando Cunha, Carvalheira, todos mantendo uma tradição de mais de trinta anos.
Pinheirense hoje agradece a Deus, reconhecendo que ‘Ele escreve certo por linhas tortas’, e diz ainda ‘Se tivesse que escolher novamente entre o futebol profissional e a minha atual profissão, preferiria ficar com esta’.
Atualmente Pinheirense é craque nas peladas dos ‘Caducos’, de Boa Viagem, e torcedor do Sport Clube do Recife. Não bebe, não fuma e na sua aparência tímida está um homem bom, simpático e atencioso.”

DONA DE CASA PODE SER ARTISTA TAMBÉM (Publicada na ZONA SUL JORNAL EM REVISTA – ANO I, Nº 10, 16 a 22/11/1974)
                                  
DONA DE CASA E PINTORA

“Bonito é você entrar numa casa bem decorada e ver pendurados quadros de pintores famosos, como: Elizeu Visconti, Gogh, Picasso. E também não menos agradável é você penetrar num lar e ao olhar os quadros nas paredes, parar e se admirar, e, inocentemente perguntar: de quem são? E obter uma resposta de maior simplicidade: ‘são de minha mãe’. Não sou e nunca fui crítico de arte, principalmente das artes plásticas, mas, acho que essa ‘especialidade’ não é, e nunca foi privilégio de alguns, por isso me joguei de logo a fazer uma apreciação sobre a pessoa a quem minutos depois era apresentado. Nome: SALOMÉ CAMBOIM DE CASTRO, brasileira, casada com o Sr. Romero Castro, formada em Economia, um misto de dona de casa e artista. Artista não é somente o que vive de arte. Não concordo com o exagero. Já se foi o tempo de se considerar artista, aquele que vive exclusivamente da arte. A arte é aquela que tem comunicação com o povo, e que o povo entende, aceita. É a maneira como o artista se manifesta jogando toda a sua criatividade e o povo a aceita com admiração. D. Salomé Castro, é uma diletante, não vive de sua arte, mas vivendo para sua arte é uma artista. Através dos seus quadros, ela cria ou recria imagens de tudo que é belo, busca elemento naquilo que é mais pitoresco: no folclore, ressaltando o misticismo religioso da comunidade, o modus-vivendi, os folguedos populares; reproduz o alpendre de um sobrado antigo, a beleza dos seus portões de ferro expressivos e majestosos, as torres de igrejas; o esplendor de uma paisagem. Tudo isso, D. Salomé, transmite, com características genuínas, pelos seus traços e suas cores. As telas que ela compõe não são imitação, nem cópia. Não refletem influências. D. Salomé, que faz da pintura um hobby não obstante fazê-lo muito bem, jamais se compenetrou dessa realidade. Ela mesma afirma: ‘pinto quando tenho inspiração e somente nas horas de lazer’. ‘A administração de minha casa, a educação dos meus filhos Verônica, Rui e Vera, o ajudar ao meu marido nos seus negócios, fazem meu cotidiano. A pintura é apenas um acessório do meu mundo’. Se algum dia o prezado leitor vier conhecer D. Salomé, verá que ela é uma artista pelas telas que criou, pelo cunho decorativo que impôs à sua casa, transmitindo-lhe bom gosto num mesclado de coisas simples e rústicas, com peças raras e luxuosas.”