JORNAIS REVISTAS E CLUBES
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ouca
gente sabe que a nossa praia teve jornal, revista, clubes sociais, agremiações
esportivas fortes e até um cine-clube, todos criados por iniciativa da nossa
juventude, para o preenchimento das horas de ócio. Vejam vocês: existiam muitos
campos de todos os tamanhos para a prática do futebol e do voleibol,
independentemente, dos campeonatos e torneios de futebol de praia, que se
programavam, delineando as áreas da beira mar para à sua prática. Algumas
entidades: BRASILEIRINHO, PORTUGUESA, ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA DA BOA VIAGEM, ONZE
UNIDOS, CRUZ SANTA, CORTA JACA, GALPÃO DA QUERÊNCIA (Clube Gaúcho), ÁGUIA
NEGRA, PALMEIRAS, YPIRANGA, CANARINHO, SÃO CRISTOVÃO, ESCOLA DE SAMBA BIRINAITE
CLASSE A; BLOCO CARNAVALESCO KATRAIAS; RIFIFI ESPORTE CLUBE e os ainda
existentes CLUBE DO LIMÃO; CLUBE DOS RAPAZES INOCENTES (CRI); CLUBE RECREATIVO
DA AMIZADE (CRA).
Afora o CLUBE DE TÊNIS, o CLUBE DOS OFICIAIS
DA AERONÁUTICA e o CLUBE DAS ÁGUIAS (Clube dos Sargentos e Sub-Oficiais da
Aeronáutica), que já existiam na década de 1950, surgiram, posteriormente, o
CLUBE GAÚCHO DE PERNAMBUCO, este pertencente a colônia gaúcha em Pernambuco e o
BOA VIAGEM PRAIA CLUBE (em meados de 1960) ambos extintos há anos. Lembramos
porém, que o “Galpão da Querência Gaúcha”, no pouco tempo de sua existência, dinamizou
a vida social e desportiva do nosso
bairro com uma programação intensa
e bastante freqüentada por todos nós.
Um fato curioso: Quando o GALPÃO DA QUERÊNCIA
GAÚCHA patrocinou seu primeiro Campeonato Farroupilha em 1961 não permitiu a
inscrição do RIFIFI ESPORTE CLUBE, exigindo um outro nome, e assim, a turma do
REC registrou o nome de CORTA JACA ESPORTE CLUBE, tornando-se as suas equipes
de juvenis e adultos, campeãs dos anos de 1961 e 1962.
O quadro adulto bi-campeão foi formado por:
Vicente Cerqueira, Joca Guimarães, Breno Silveira, Carlindo Falcão, Babau
Barreto, Luis Patury, Paulinho Carioca, Paulinho Oliveira, Caio e Marcos
Bezerra, Luiz Carlos, Baby, Roberto Falcão, Tonho, Marcos Silveira, Zé Carlos
Araújo.
BRASILEIRINHO FUTEBOL DE PRAIA
No início dos anos sessenta, Boa Viagem tinha
como atração os campeonatos anuais de futebol de praia, com a participação de
equipes de vários bairros praieiros ou não.
Os embates futebolísticos eram aguerridos e,
ás vezes, tumultuados por indisciplinas dos atletas e até mesmo brigas entre
torcidas.
Os clássicos eram cheio de espectadores do
futebol de praia que se divertiam com as habilidades dos craques, como também
com as grotescas jogadas de alguns “pernas de pau”.
A expectativa, que se criava antes de um
clássico, entre o BRASILEIRINHO de Boa Viagem e, por exemplo, o CORAL do Pina;
o DOM VITAL de São Jose; a ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA DE AFOGADOS – AAA; era a de que
tudo poderia acontecer tamanha a
rivalidade existente entre os jovens dos
bairros.
CLUBE MAIS ANTIGO
O CLUBE DE TÊNIS, talvez o mais antigo da
época, se localizava no terreno onde foi construído o Hotel Boa Viagem, que
está sendo demolido para a construção de dois espigões residenciais. Sobre tal
agremiação, melhor se transcrever, trechos de uma reportagem intitulada “Dos
tempos de João aos de Lula Cardoso Ayres” (do ZONA SUL JORNAL / REVISTA, Ano 1. Edição 01, de 14 a 20 de setembro de 1974),
que revela a vida social do nosso bairro nas décadas anteriores a de l950:
“Há as famílias monumentos de Boa Viagem. Aquelas que
sempre acreditaram no bairro e o transformaram, com o peso de sua tradição, naquela
faixa saudavelmente snob da zona sul do Recife. Foi o industrial João Cardoso
Ayres, usineiro de Cucaú, era o que naquela época, se chamava de dândi
completo. Tinha o dom, natural de liderança e esse dom ele o aplicava em todos
os setores da vida - inclusive no de viver bem em sociedade. João Cardoso
Ayres era, sobretudo, um entusiasta de Boa Viagem, um reduto altamente
sofisticado onde as famílias do Recife iam passar a temporada de banhos, inclusive
os circunspectos ingleses que residiam em Apipucos. A curiosa
caravana, nos heróicos e luzidios Fords de bigode, geralmente ser dirigia para
Boa Viagem pela Estrada dos Remédios e Imbiribeira. A PONTE DO Pina dificilmente
era usada, porque só dava passagem para uma fileira de carros de cada vez, face
a puçá largura. A areia de Boa Viagem era pura, alva, ainda sem poluição de
hoje.
AS INICIATIVAS, AS
GRANDES FESTAS NO CLUBE DE TÊNIS.
Industrial dinâmico, elegante, sempre de bom humor, João
Cardoso Ayres promovia a alegria em Boa Viagem, apesar de ser um boa-viagense
honorário, pois residia no Benfica, na casa que, hoje em dia pertence à viúva
Frederico Von Shostenne e Lima Cavalcanti. Centralizou a alegria na fundação do
Clube de Tênis, no terreno onde foi construído o Hotel Boa Viagem. Lá eram realizados
bailes nos fins de semana, com horários destinados aos mais velhos, aos mais
jovens e a criançada. Foi lá que se lançou o guaraná Frateli Vita. Os grandes
dias do Clube de Tênis eram por ocasião dos grandes bailes carnavalescos. Com
sua organização, João Cardoso Ayres, promovia baile dos casados, dos solteiros.
No verão havia festa todo fim-de-semana. Quem se encarregava de confeccionar os
convites era um jovem muito entusiasmado, filho de João, Lula Cardoso Ayres. A
atração, pois começava pela beleza e bom gosto dos convites. Lula Cardoso Ayres
já se iniciara na pintura.”.
NB: Sabe-se que o Clube de Tênis de Boa
Viagem, era muito famoso, pois lá se reunia a elite social recifense com os
seus convidados estrangeiros que vinham visitar o Recife.
BOA VIAGEM E A SUA IMPRENSA PROVINCIANA
Permitam amigos e, porventura, outros
prezados leitores, escrever usando o verbo na primeira pessoa, não por
diletantismo, mas para homenagear, de forma
singela, aqueles que me deram a luz e a minha educação moral e
religiosa, me acompanhando sempre nos bons e, também, nos difíceis caminhos
da vida: Os meus pais Carlos e Odete
Araújo.
Sou o terceiro dos
nove filhos do casal. Meu pai, advogado do batente, foi orgulhoso sempre de não
ter sido empregado de ninguém, nem contribuinte da famigerada previdência
social brasileira, tendo também dispensado a dádiva de um cargo público, na
época em que a sinecura era uma instituição comum no país. Minha mãe formou-se
em contabilidade pela Escola Normal, trabalhou no comercio na firma Albino
Silva e, ao se casar, dedicou-se exclusivamente à família. Ambos conseguiram
oferecer curso superior para todos os filhos que, com a graça divina, vão bem.
Desde pequeno tinha uma vocação para
comunicação, quando criei jornais no Colégio Salesiano (Jornal Dom Bosco);
Colégio Nóbrega (Jornal do Grêmio Literário); Faculdade de Direito da UCP - Unicap
(Jornal Brasilidade); Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exército
(CPOR em Notícias).
GAZETA DA BOA VIAGEM
foi fruto desse ideário de adolescente ávido por aprender e realizar algo de
útil, num bairro tranqüilo, sem tumulto, sem
violência, sem vida noturna alguma, e que começara a se desenvolver
sobremaneira com o asfaltamento da Rua dos Navegantes e de algumas ruas transversais, bem como, as construções de
edifícios residenciais e pequenas galerias comerciais, ocupadas com farmácias,
lavanderias, lanchonetes, lojas de discos e de confecções.
O corpo de redação
era formado por este escriba e mais: Bruno Veloso da Silveira, Antonio de Souza
Bispo e Herbert Drummond e, tinha como colaboradores outras pessoas, como:
Éster Cohen, Magnólia Godoy, Cônego Adalberto Damasceno, Wilkie Sales Simão,
Eliete Roma, Alberto e Carlos Teixeira, Artur Orlando e Roberto Costa Lins.
O trabalho era
dificílimo, uma vez que muitas vezes após as aulas do colégio, passava as
tardes na tipografia do Jornal A TRIBUNA, da nossa Arquidiocese, que ficava na
Rua do Riachuelo, na Boa Vista, lugar em que o nosso jornal era impresso, ou
tentando vender espaços de propaganda, sem nenhum conhecimento de técnica de
vendas.
Sem anúncios publicitários, o jornal, que era
quinzenal, só chegou ao seu sexto número, aos “trancos e barrancos”, jogando
por terra todo o sonho de um adolescente.
ZONA SUL - JORNAL / REVISTA
Nos meados da década
de 1970, precisamente em setembro de 1974, surgiu em nossa praia o ZONA SUL –
JORNAL / REVISTA, que tinha como Editor-Responsável o jornalista Manoel
Barbosa, egresso de vários jornais pernambucanos. A redação e publicidade
ficava na Av. Conselheiro Aguiar, nº 2846, e era composto e impresso na Indústria
Gráfica do Recife Ltda, na Rua Dr. José Mariano, nº 723, Boa Vista – Recife.
Dito jornal-revista
era muito bem diagramado e impresso, no mais moderno sistema gráfico da época,
com fotos coloridas de alta resolução. Sob o tema: “A população da zona sul é
quem faz este jornal / revista“, diga-se de passagem, que eram os praieiros do
sul do Recife que predominavam nas suas páginas de reportagens, crônicas e
notícias.
Muitas pessoas,
artistas, estudantes, atletas, profissionais liberais, empresários da indústria
e do comércio, agremiações sócio-desportivas e muitas mulheres bonitas foram
destacadas pelo Zona Sul, que tinha colaboradores como Napoleão Barroso Braga e
Carlos Lustosa. Tal revista teve uma duração razoável, diante de um comércio e
setor de serviços instalados no bairro, ainda de forma empírica, que não
puderam dar o suporte necessário àquele órgão de imprensa, que se mostrava
promissor por ser muito bem elaborado, com boas reportagens na capa e
contra-capa e notícias muito bem veiculadas de interesse dos moradores do
litoral sul.
Induvidosamente o
JORNAL - REVISTA ZONA SUL deixou um registro indelével dos anos em que
circulou, por essa razão óbvia, várias de suas páginas se acham republicadas
nestas memórias.
JORNAL DA PRAIA
O Jornal da Praia, de
Fernando A Monteiro, era editado no parque gráfico GTB Guias Telefônicos do
Brasil e circulava nas praias de Olinda (principalmente) e de Boa Viagem.
Surgiu no início da década de 1980 e tinha um formado de pequeno tablóide, se
restringindo ao noticiário de festas de aniversários, de casamentos e outras
comemorações festivas empresariais, dando ênfase às fofocas sociais praieiras
do que mesmo assuntos mais sérios das praias. Tal órgão de imprensa durou
poucos anos.
GAZETA NOSSA
Desde Maio de 2007 circula em Boa Viagem uma
publicação voltada para os seus interesses – o Jornal Gazeta Nossa, que anteriormente circulava apenas no IPSEP. Trata-se
de um jornal quinzenal com tiragem de 5.000 exemplares, com 16 a 20 páginas impressas
totalmente em policromia nas Edições Bagaço, em formato tablóide, o que
facilita a sua leitura por ser formato compacto. Sua distribuição é feita no
calçadão de Boa Viagem e empresas e possui atualmente cerca de 700 assinantes.
É
um órgão dirigido pela jornalista Maria do Carmo Andrade Lima e, tem como seu
editor chefe, o jornalista Paulo Rocha.
ARTIGOS DIVERSOS DO
AUTOR
Para imortalizar e
relembrar a época em que a ZONA SUL reinou no nosso bairro é importante
transcrever alguns artigos elaborados pelo autor:
RIFIFI
O FUTEBOL DE BOA VIAGEM (Publicada no ZONA SUL – Jornal e Revista Ano I, nº 9,
agosto de 1974)
“Embora não seja sugestivo o nome de RIFIFI, a verdade é
que essa agremiação tem atravessado as fronteiras dos preconceitos sociais e
repeliu o falso juízo de alguns que confundiam aquela rapaziada com a
famigerada juventude transviada da década de 1950. Os seus integrantes faziam
do assobiar às vezes inconvenientes da música-tema do filme ‘Rififi’, o ‘toque
de reunir’ dos outros colegas em quaisquer reuniões ou festas. Todavia, como
tudo passa, hoje, os seus integrantes são na maioria profissionais liberais,
dentre eles os Drs. Antônio Carlos Araújo (Advogado), Breno Pimentel da
Silveira (Economista), Marcos Pimentel da Silveira (Engenheiro), Marcelo
Pimentel da Silveira (Odontólogo), José Trajano da Costa (Engenheiro e
Empresário), Ricardo Rodovalho de Lira (Odontólogo), Carlos Alberto Texeira
(Engenheiro), Luiz Carlos Campos (Administrador de Empresas) E Luiz Augusto
Vieira da Cunha (Administrador de Empresas). Todos participantes efetivos não
só do desenvolvimento esportivo, como também, sócio-econômico do bairro. Cada
um dentro das suas atividades laborais. Liderando empresas, clínicas,
escritórios, etc. Afora as atividades desportivas que sempre foram a tônica de sua
existência o RIFIFI foi a agremiação que realizou as melhores serenatas, as
mais animadas prévias carnavalescas da zona sul, apresentando ‘Posto Quatro na
Folia’, ‘Rei Momo Vem Aí’, noticiadas inclusive nas colunas sociais dos jornais
recifenses, pois, repercutiam fora do nosso bairro.
A partir daquele momento, o RIFIFI iniciava um rosário de
vitórias contra equipes do Pina, Piedade, Aeronáutica, Imbiribeira, Ibura, etc,
que o tornou conhecido na zona sul.
FOI FORÇADO A MUDAR
DE NOME DEVIDO AOS PRECONCEITOS DA ÉPOCA
Por inibições e preconceitos de alguns o RIFIFI para
participar dos três campeonatos farroupilhas tomou o cognome de CORTA JACA,
certamente que eram promovidos pelo GALPÃO DE QUERÊNCIA, Clube Gaúcho de
Pernambuco (situado à Rua Jequitinhonha), tornando-se campeão nas categorias
adulto e juvenil.
Estimulado pelos títulos conseguidos naqueles
campeonatos, resolveu patrocinar o primeiro Campeonato de Verão, vencendo-o nas
categorias Juvenil e Infanto-Juvenil. Daí em diante passou a representar o bairro
de Boa Viagem em outros torneios e competições dentre eles: Campeonato
Inter-Bairros, Campeonato de Futebol de Praia, Campeonato de Peladas promovidas
por órgão de Imprensa da Capital, agremiações esportivas e Prefeitura Municipal
do Recife. Em 1969, passando a jogar calçado já em campos oficiais, o RIFIFI
conseguiu armar a melhor equipe de sua existência e, excursionou pelas Cidades
interioranas dos Estados de Pernambuco e da Paraíba, obtendo vitó rias
inesquecíveis, dentre as quais: contra os Juvenis do América Futebol Clube
(7x0); Escolinha da Cabanga (8x2); Estudantes de Timbaúba (7x0); Juventude
Esportiva de Timbaúba (2x1 e 3x2); Esporte Clube També (3x0) e empates nas
Usinas Caxangá e Cucaú, etc. O quadro era assim constituído: Abdias (ex-goleiro
do Náutico e América); Frederico e Walter Calábria, Marcos Silveira, Breno
Silveira e Marcos Pasticha, Marcos Cerqueira, Luís Carlos Campos, Ricardo
Rodovalho, João Vicente e Antônio Carlos Araújo.
Surgidos nos idos de 1958, nas peladas do jardim da
residência do Dr. José Dhalia da Silveira, na Av. Boa Viagem, nº 3.672, à
altura do Corta Jaca, o RIFIFI ESPORTE CLUBE (nome originário da música tema do
filme que foi sucesso na época: ‘RIFIFI’) não se sabia que iria percorrer todos
estes anos, mesmo com as dificuldades provocadas pelas constantes mudanças de
suas praças de jogos, impostas pelo progresso deste bairro-cidade.
A trajetória tem sido longa e as suas atuais equipes
continuam com aquele mesmo elã dos seus fundadores: Marcos e Marcelo Pimentel
da Silveira, Mário Machado Junior e Marcelo Wolfmam Machado e Fred Wolfmam.
DO JARDIM PARA UM CAMPINHO
No ano de 1960, o clube aumentou o número de sócios
atletas com a inclusão de Antônio Carlos Araújo, Paulo Roberto, Carlos e Luiz
Teixeira, Roberto Antônio e Antônio Roberto Ramos e, conseguiu o Dr. Ambrósio
Trajano Costa (já falecido, um dos beneméritos da agremiação) que lhe fosse cedido
um terreno para o seu primeiro campo, que se localizou onde atualmente se
encontra ‘Lojas Boa Vista’.
QUANDO OS RIVAIS SE
UNEM
Construído o campinho, surgiu outro problema que era
encontrar adversário para jogar. Buscou-se no Mata Sete (localidade situada por
trás da Av. Conselheiro Aguiar, à altura do Ed. Holiday repleta de casebres) o
seu primeiro e mais sério rival, pois os encontros das duas equipes eram
verdadeiras batalhas ajudadas pelas manifestações das torcidas e dos moradores
dos casebres que infestavam aquelas redondezas e que por vezes agravavam os
propósitos meramente desportivos. Depois, sendo seu Diretor Desportivo, Antônio
Carlos de Araújo, resolveu ampliar o campinho, dando condições de se formar
equipes com nove jogadores cada. E trazendo para o RIFIFI os três melhores
atletas do Mata Sete, Geraldo Alves da Silva, Severino Xavier e Arnaldo Xavier,
famosos pelas alcunhas de Neca Bodinho, Biu Pacaru e Cangaceiro, forçou a
dissolução do tradicional antagonista.”
CABANGA.
O GRANDE CARNAVAL DA ZONA SUL (Publicado no ZONA SUL – Jornal e Revista ANO
I, nº 11, 22/11/1974 a 29/11/1974)
“O Carnaval da zona sul, especialmente o de Boa Viagem,
há mais de trinta anos se limitava às festas promovidas pelo CLUBE DE TÊNIS DE
BOA VIAGEM (que se localizava onde hoje se encontra o Hotel Boa Viagem) e,
pelas festanças realizadas por tradicionais famílias do bairro tais como:
Dhalia da Silveira, os Addobbati, os Costa, os Menezes, os Cardoso Ayres, os
Queiroz, os Colaço, os Cunha Rego, os Tigre, os Neves, os Carneiros, os
Petribu, os Pierreck, os Pontual, os Vasconcelos e os Aires. Naqueles idos a
diminuta população boaviagense não tinha as opções de hoje para se divertir. Na
verdade, se formos fazer uma retrospectiva da zona sul, principalmente, sobre os
períodos carnavalescos, veremos que nos meados da década de 1950, quando o
bairro deixava de ser mera praia, onde se vinha curtir o verão, para
transformar-se em HABITAT definitivo do recifense, é que evidenciamos que
passou a ter vida social.
Durante algum tempo o AERO CLUBE DE PERNAMBUCO, era o
mais aberto e o local onde se reunia a maioria dos jovens. Todavia, essa
liderança na realização das melhores prévias de carnaval não durou muito, vindo
a ser ofuscada, já nos idos de 1957, pelas realizações do CABANGA IATE CLUBE,
intituladas ‘CARNAVAL EM PRETO E BRANCO’,
‘CARNAVAL EM TECNICOLOR’ e ‘CARNAVAL COMEÇA NO CABANGA’, que até hoje
subsistem.
A agremiação da bacia do Pina, popularmente chamada, de
Clube das Gaivotas Douradas, mesmo sendo fundada em 2 de abril de 1947, durante
os seus dez primeiros anos de existência não passava de um clube dos chamados
fechados, que se restringia a um número de sócios que não chegava à casa dos
quarenta. Todavia a capacidade empreendedora dos saudosos Carlos Frederico Meira
de Vasconcelos e Fernando Borges Rodrigues, respectivamente, Comodoro e Diretor
Social, na época, deu nova dimensão ao CABANGA, transformando-o numa agremiação
mais ampla em termos de participação, acompanhando o progresso não só do
bairro, senão da cidade. Foram estes desportistas sempre lembrados, que
idealizaram essas tradicionais festas pré-carnavalescas que, de ano para ano,
vêm alcançando maior sucesso. Já fazem parte, inclusive, do calendário social
do Recife.
Por outro lado, uma não menos famosa agremiação social da
zona sul, o CLUBE DOS OFICIAIS DA AERONÁUTICA, cognominado Clube da Águia, não
ficou atrás naquele tempo, quando patrocinou os bailes ‘MAMÃE EU QUERO VOAR’, ‘SESSENTA
VEM AÍ’, ‘SESSENTA CHEGOU’, ‘SESSENTA ME ENGANOU’, este último, já em 1959, com
os títulos inspirados no verso de um frevo-canção que dizia ‘negro em sessenta
vai virar macaco’ e ‘penca de banana vai custar um milhão’. O CLUBE DA
AERONÁUTICA, nestes últimos anos se tem restringido à realização de duas
festas, realmente espetaculares: ‘MAMÃE EU QUERO VOAR’ e o seu famoso ‘REVEILLON’
este último, primeiro sem segundo na nossa Capital.
A HEGEMONIA É DO CABANGA
O CABANGA IATE CLUBE DE PERNAMBUCO, nos últimos anos é
verdadeiramente a agremiação que tem oferecido as melhores festas. A exemplo
daquelas três principais festas pré-carnavalescas, o Cabanga idealizou no ano
passado mais uma outra, denominada ‘CARNAVAL À VISTA’, graças ao empenho do
ex-comodoro Julio Duarte Areia, quebrando um tabu de que ‘festa de carnaval
fora de época não alcançaria sucesso’.
No sábado, dia nove do corrente, o Cabanga foi sacodido
por uma explosão de alegria que prenunciou um carnaval dos mais animados para o
ano de 1975, bem como nos leva à certeza de que as suas prévias: ‘CARNAVAL EM PRETO E BRANCO’, a se realizar
em 14 de dezembro; ‘CARNAVAL EM TECNICOLOR’, em 11 de janeiro e, finalmente a
sensacional, ‘CARNAVAL COMEÇA NO CABANGA’ serão coroadas de êxito.”
AS EMOÇÕES DO KART (Publicado no ZONA
SUL – Jornal e Revista ANO I, nº 8, 2/11/1974 a 8/11/1974)
“Surgido em 1968, através da iniciativa pioneira do seu
atual Presidente Fernando Pires Costa, o KART CLUBE DE PERNAMBUCO, continua
hoje sendo uma das atrações do desporto pernambucano, principalmente, no setor
amadorista. As dificuldades continuam, todavia, não têm desanimado aqueles que
fazem parte da cúpula dirigente da entidade, que mesmo em prejuízo dos seus
afazeres particulares, sempre procuram um tempinho para ajudar o kartismo do
Estado. Um dos problemas mais cruciantes da entidade tem sido a falta de um
kartódromo com os requisitos técnicos capazes de dar segurança, não somente aos
pilotos, mas, ao público, que também tem sido responsável pelo brilhantismo das
inúmeras provas que o KART CLUBE tem realizado.
Mesmo com os problemas existentes, Pernambuco é o Estado
pioneiro no Nordeste do Brasil a realizar certames e incentivar a criação de
entidades congêneres noutros estados, tais como, Bahia e Rio Grande do Norte.
Os precursores do
kartismo em Pernambuco foram os seguintes desportistas: Fernando Pires Costa,
Fernando Addobbati, Biagio Lombardi, Jorge Asfora, Nadjackson Pereira Domenico
Dela Santa. Desta relação, continuam dando sua parcela de colaboração o atual
Presidente Fernando Pires e o piloto Fernando Addobbati.
Atualmente as provas do kartismo pernambucano têm sido
realizadas no estacionamento de veículos do ginásio municipal, o famoso
‘GERALDÃO’, situado na Av. Mascarenhas de Moraes, Imbiribeira, graças à
colaboração do superintendente Cel. Haroldo Tôrres.
Se se levar em consideração que os maiores azes do
automobilismo mundial são ex-pilotos de kart, há que considerar que este
esporte é realmente uma escola em que aqueles que dela participam adquirem a
sensibilidade, frieza, equilíbrio e coragem, virtudes necessárias para a
formação dos grandes campeões, como Emerson e Wilson Fitipaldi, Carol
Figueiredo, Rony Peterson, Jean Pierre, Beltoise e outros.
Com as dificuldades da Federação Pernambucana de
Automobilismo, da qual o KART CLUBE faz parte, os associados da entidade máter
têm dado um apoio efetivo ao seu filiado devido ao fato de que Pernambuco ainda
se ressente da falta de um autódromo, que vem sendo uma promessa constante dos
nossos governantes e, que até a presente data, nada de concreto foi realizado,
o que tem causado grande descontentamento aos automobilistas, principalmente
dos nostálgicos, Lourenço Bezerra Cavalcanti, Gegê Bandeira, Paulo Marinho,
Armando da Fonte, Rafael Addobbati, Zeca Nery e Maurício Bukart.”
PINHEIRENSE, DOS
GRANDES ESTÁDIOS AO BATE-BOLA TRANQUILO EM BOA VIAGEM (Publicado na ZONA
SUL – JORNAL E REVISTA, ANO I, nº 12, 30/11/1974 a 6/12/1974):
“Sálvio Martins Correia, é o nome completo de
Pinheirense, um dos maiores craques do futebol pernambucano, bem como um dos
melhores ‘peladeiros’ da zona sul.
Quem o quiser ver jogar vá aos sábados à tarde ao campo
do Rififi, à Rua Dhalia, e lá o conhecerá (ou reconhecerá) pela dificuldade de
correr, devido a uma atrofia na perna esquerda, provocada por uma contusão num
dos jogos mais tumultuados do futebol nordestino, em 1960, no Estádio
Presidente Vargas, em Fortaleza: Sport Clube do Recife 3, Fortaleza 1. Daquela
partida, Pinheirense se recorda de quase tudo: do jogador que o atingiu
deslealmente, Marreta, dos três jogadores expulsos de cada lado e dos autores
dos gols, etc.
A volta da capital cearense lhe deu a certeza de sua
incapacidade física para a prática do futebol profissional. Começou assim o
período amargo de sua vida, que o obrigou a vender seu único patrimônio,
provindo da profissão: uma casa, ainda em construção, na Rua Ernesto de Paula
Santos; para poder subsistir.
Nascido em Pinheiro (daí o apelido de Pinheirense), no
Estado do Maranhão, é um boaviagense de coração. O ex-atleta do Sport Clube do
Recife chegou para estas plagas trazido pelo sentimento de gratidão dos
dirigentes do Moto Clube, que o incluíram naquela delegação do clube em que ele
jogara. É que havia sido demitido por ser julgado inapto para jogar futebol:
uma hepatite contraída em
São Luís.
Ricardo Diez, técnico do Sport na época, sabia de sua
fama de bom jogador, bem como da doença. Chamou-o a participar de um treino de
15 (quinze) minutos e o apresentou logo ao Dr. Fraga Rocha, titular do
Departamento Médico do Clube. O também saudoso Dr. Fraga fez os necessários
exames clínicos e mandou que Pinheirense passasse quarenta dias na Colônia de
Férias do SESC, em Garanhuns, por conta do Clube da Ilha do Retiro. O atleta,
tido como incapaz pelo clube maranhense e pesando quarenta e nove quilogramas,
viu renascer a possibilidade de voltar a jogar o futebol.
Campeão em 1954 e Bi – Campeão em 1955
De volta de Garanhuns o médio canhoto foi escalado
titular do quadro da Praça da Bandeira, tornando-se campeão de 1954 e
bi-campeão, já em 1955, estas duas conquistas as mais brilhantes do clube
pernambucano, cujos quadros são considerados os mais bem formados pelo glorioso
Sport Clube do Recife, nas gestões Gilberto Duque de Souza (1954) e Adelmar da
Costa Carvalho (1955). Em 1954, durante a gestão de Gilberto Duque de Souza:
Carijó, Bria e Djalma, Zé Maria, Wilson e Pinheirense, Carlinhos, Tonho, Enio,
Cely e Zingone. Em 1955, na gestão de Adelmar da Costa Carvalho, no
cinqüentenário do Sport Clube do Recife, tornou-se bi-campeão, fazendo parte da
seguinte equipe: Osvaldo Balisa, Bria e Pedro Matos, Osvaldinho Mirim e
Pinheirense, Traçaia, Naninho, Gringo, Soca e Géo.
Como se vê, nesta última formação, mesmo com a saída do
Ricardo Diez, a famosa ‘Raposa Branca’, substituído pelo não menos famoso
técnico nacional, o saudoso Gentil Cardoso (o homem do boné), Pinheiro (como é
chamado na intimidade) permaneceu absoluto na sua posição.
EXCURSIONOU PELA
EUROPA, E NA FRANÇA PASSOU-SE POR MIRIM
Em 1957, voltou a ser campeão pelo rubro negro da Ilha do
Retiro, tendo inclusive participado da Excursão que o clube pernambucano
empreendeu pela Europa e Oriente Médio. Um detalhe curioso: na França,
Pinheirense foi confundido com Mirim, já que o famoso centro-médio deixou de
acompanhar a delegação, dias antes do embarque, pois fora agredido num bar do
Recife, por torcedores adversários. A imprensa francesa havia publicado os
nomes mais conhecidos dos jogadores da agremiação pernambucana, entre eles
estava o do centro-médio Mirim (que jogara no Vasco da Gama). Das vinte e uma
partidas, o rubro negro venceu nove, empatou seis e perdeu seis. Fontaine,
jogador francês, que na Copa do Mundo de 1958 viria a ser artilheiro, jogou
contra o quadro nordestino, pelo Real Madrid, que venceu de 5x3, na inauguração
dos refletores daquele clube espanhol.
PASSOU DIAS AMARGOS,
MAS HOJE SE CONSIDERA REALIZADO
Embora houvesse sido um revoltado durante os dois
primeiros anos posteriores à sua contusão, Pinheirense, pôde sair da angústia e
da depressão que o atormentava. Com muita força de vontade dedicou-se ao
comércio onde hoje se considera realizado: primeiro, por constituir família e
poder educá-la; segundo, por poder fazer aquilo que sonhara quando moço,
estudar.
Entre a família e o trabalho estão também as peladas dos
caducos de que participa aos sábados, como higiene mental.
As peladas e os bate-papos com os amigos: Carlos, Lula,
Dinho e Fernandinho Falcão, Ricardo Lambreta, Paulo Uchoa, Hélio Mota, José
Mário, Jarbas e Fernando Cunha, Carvalheira, todos mantendo uma tradição de
mais de trinta anos.
Pinheirense hoje agradece a Deus, reconhecendo que ‘Ele
escreve certo por linhas tortas’, e diz ainda ‘Se tivesse que escolher
novamente entre o futebol profissional e a minha atual profissão, preferiria
ficar com esta’.
Atualmente Pinheirense é craque nas peladas dos ‘Caducos’,
de Boa Viagem, e torcedor do Sport Clube do Recife. Não bebe, não fuma e na sua
aparência tímida está um homem bom, simpático e atencioso.”
DONA DE CASA PODE SER
ARTISTA TAMBÉM
(Publicada na ZONA SUL JORNAL EM REVISTA – ANO I, Nº 10, 16 a 22/11/1974)
DONA DE CASA E PINTORA
“Bonito é você entrar numa casa bem decorada e ver
pendurados quadros de pintores famosos, como: Elizeu Visconti, Gogh, Picasso. E
também não menos agradável é você penetrar num lar e ao olhar os quadros nas
paredes, parar e se admirar, e, inocentemente perguntar: de quem são? E obter
uma resposta de maior simplicidade: ‘são de minha mãe’. Não sou e nunca fui
crítico de arte, principalmente das artes plásticas, mas, acho que essa ‘especialidade’
não é, e nunca foi privilégio de alguns, por isso me joguei de logo a fazer uma
apreciação sobre a pessoa a quem minutos depois era apresentado. Nome: SALOMÉ
CAMBOIM DE CASTRO, brasileira, casada com o Sr. Romero Castro, formada em
Economia, um misto de dona de casa e artista. Artista não é somente o que vive
de arte. Não concordo com o exagero. Já se foi o tempo de se considerar
artista, aquele que vive exclusivamente da arte. A arte é aquela que tem
comunicação com o povo, e que o povo entende, aceita. É a maneira como o
artista se manifesta jogando toda a sua criatividade e o povo a aceita com
admiração. D. Salomé Castro, é uma diletante, não vive de sua arte, mas vivendo
para sua arte é uma artista. Através dos seus quadros, ela cria ou recria
imagens de tudo que é belo, busca elemento naquilo que é mais pitoresco: no
folclore, ressaltando o misticismo religioso da comunidade, o modus-vivendi, os
folguedos populares; reproduz o alpendre de um sobrado antigo, a beleza dos
seus portões de ferro expressivos e majestosos, as torres de igrejas; o
esplendor de uma paisagem. Tudo isso, D. Salomé, transmite, com características
genuínas, pelos seus traços e suas cores. As telas que ela compõe não são
imitação, nem cópia. Não refletem influências. D. Salomé, que faz da pintura um
hobby não obstante fazê-lo muito bem, jamais se compenetrou dessa realidade.
Ela mesma afirma: ‘pinto quando tenho inspiração e somente nas horas de lazer’.
‘A administração de minha casa, a educação dos meus filhos Verônica, Rui e
Vera, o ajudar ao meu marido nos seus negócios, fazem meu cotidiano. A pintura
é apenas um acessório do meu mundo’. Se algum dia o prezado leitor vier
conhecer D. Salomé, verá que ela é uma artista pelas telas que criou, pelo
cunho decorativo que impôs à sua casa, transmitindo-lhe bom gosto num mesclado
de coisas simples e rústicas, com peças raras e luxuosas.”